Horas depois do caso Mourinho, Antero Henriques, dirigente da SAD, prepara com Pinto da Costa as primeiras explicações para negar os insultos de Mourinho e o caso da camisola rasgada.
Antero Luís (A) - Foda-se! Não dormi um caralho! Estou com uma enxaqueca, pá.
Pinto da Costa (PC) - Filhos da puta.... [...] Tínhamos morto esta merda ontem [...]
A - Embora eu ache que o Mourinho, no final, também se exaltou muito!
PC - É, um bocado.
A - É! Aquela história de dizer que o Rui Jorge morreu em campo e...
PC - Ele disse aonde?
A - Ele diz que disse cá em baixo, disse cá em baixo, junto a... quando estava a malta toda ali! Mas eu liguei para a ‘Bola’ e para o ‘Jogo’ a desmentir! A dizer que ele estava a dizer que era mentira!
PC - Não, não! Não... não é desmentir! A gente tem é de processar o gajo que diz! [...]
A - É... e em relação à camisola, também tem de se arranjar ali uma tanga, presidente!
PC - Arranjar que ele foi provocar para a porta do balneário!
A - É. E que o Mourinho disse que: “Esta camisola é indigna de ser trocada. Porque se a tivesse rasgado não a mandava outra vez para o balneário do Sporting.” [...] É! Temos de arranjar aí uma tanga, senão saímos por baixo desta merda toda.
PC - Mas já falou com o Mourinho, não?
A - Não, não, não. Vou agora com ele ver o Rio Ave, agora, às quatro horas!
PC - É... mas diga-lhe, é pá! Ele que não preste dec... diga-lhe só...
A - Não, por isso é que vou com ele! Por isso é que vou com ele!
PC - E amanhã é um processo-crime contra...
A - É...
PC - Esse Bettencourt e os jornais carago!
A - É que esse gajo é mesmo um cobarde!
VALENTIM LOUREIRO
No dia 2 de Fevereiro, Pinto da Costa toma conhecimento de que Mourinho terá um processo disciplinar e que não haverá qualquer processo contra Liedson, jogador do Sporting, que alegadamente teria agredido Jorge Costa. Zangado, liga para Valentim Loureiro a pedir explicações.
Valentim Loureiro (VL) - Estou!
Pinto da Costa (PC) - Sr. presidente, como está?
VL - Ilustre amigo!
PC - Eu estou um bocado fodido com o meu amigo!
VL - Comigo?
PC - Então! Eu falo-lhe no Liedson... o Liedson não apanha nada, põe um processo disciplinar ao Mourinho!!!
VL - Isso ainda não está decidido, pois não?
PC - Está! Então! O processo disciplinar
VL - Eu cheguei agora à Liga [...] Como é que você sabe?
PC - Oh...
VL - Foi algum comunicado?
PC - Estou a dizer-lhe! Processo disciplinar ao Mourinho!
VL - Ó pá, desconheço isso em absoluto! Cheguei agora!
PC - E ao Liedson nada! [...] Vai um gajo à televisão dizer que o Paulino, que o Paulino que é um atrasado mental disse uma coisa e pronto! E o treinador tem um processo disciplinar!
Parece que existe por ai uma geração que está disposta a mais um bocadinho, mais um pedacinho de genica sei lá!É cartazes, é manifs, é isto e aquilo, estamos mesmo lá! Só falta o ataque militar ao Irão para a plenitude da coisa....
Quando não se tem muito tempo vai de copiar cenas dos outros foda-se!
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!" "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho! O Sol está quente comó caralho! O universo é antigo comó caralho! Eu gosto do meu clube comó caralho! O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...) Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!". Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então: Liberdade, Igualdade, Fraternidade e foda-se!!!
Mas não desespere: Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”